DONS ESPIRITUAIS  -  Módulo 1

Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.
(I Co 12:1)

 Quem precisa tomar conhecimento dos dons espirituais?  Você precisa saber acerca dos dons espirituais se:

1. Você é um crente.
2. Você confia que Jesus é seu Senhor, e você quer amá-lo e segui-lo da melhor maneira possível.
3. Você quer que a sua igreja seja um grupo saudável, atrativo e crescente em número de pessoas, que demonstrem o amor de Deus em sua comunidade.

 1.  A IGREJA, CORPO DE CRISTO

            No primeiro capítulo de Efésios lemos que Deus estabeleceu Cristo acima de todos os principados e potestades, colocando todas as coisas debaixo dos seus pés, conferindo-lhe a posição de “cabeça sobre todas as coisas”, em relação à Igreja (Ef 1:21-23).  Em Colossenses lemos praticamente a mesma coisa, que Jesus é a “cabeça do corpo, da Igreja” (Cl 1:18).  Percebemos que na Bíblia, por vezes o termo “Corpo de Cristo” refere-se à Igreja Universal, outras, à Igreja local.

            Deus não planejou que o Corpo de Cristo fosse organizado em torno do modelo ditatorial, em que um único indivíduo governa, por mais benévolo que seja o governo de tal homem.  Por outra parte, Ele também não tencionou que o seu Corpo fosse uma estrutura em que todos os membros governam. 

Ao invés de uma ditadura radical ou de uma democracia ampla, Deus preferiu criar o Corpo de Cristo como um organismo que tem a Cristo como cabeça, e cada membro funcionando com algum dom espiritual.  Compreender os dons espirituais, portanto, é a chave que nos permite entender a organização espiritual da Igreja.

               A Grace Community Church of the Valley, na cidade de Panorama, no estado da Califórnia, é uma igreja com uma incrível taxa de crescimento: mais de quinhentos por cento a cada década, com uma freqüência matutina atual de mais de cinco mil pessoas.  Ela foi intencionalmente estruturada em torno do conceito dos dons espirituais.  Disse o pastor John MacArthur: “Nenhuma congregação local será o que deveria ser, aquilo que Jesus orou que fosse, ou aquela que o Espírito Santo dotou e a preparou, enquanto ela não compreender os dons espirituais”.

As principais passagens bíblicas sobre os dons espirituais reforçam a conclusão acima.  Não é por mera coincidência que em todas as três mais explícitas passagens sobre os dons espirituais – Romanos 12, I Coríntios 12 e Efésios 4, os dons são explicados no contexto do Corpo.  “Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve” (I Co 12:18).  Isso significa que não somente Deus organizou o Corpo, tomando por modelo um organismo humano, mas também chegou ao ponto de determinar qual seria a função de cada um dos membros.

 

2. QUEM POSSUI DONS ESPIRITUAIS?  

 Nem todos possuem dons espirituais.  Os incrédulos não o possuem.  Mas todo crente dedicado a Jesus e membro real de Seu Corpo tem pelo menos um dom, ou possivelmente, mais.  A Bíblia assegura que todo crente recebeu algum dom (I Pe 4:10), e que a “manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso” (I Co 12:7). Quando o apóstolo Paulo diz que o Espírito distribuiu os dons a cada um, “visando um fim proveitoso” (I Co 12:7), ele obviamente quis dizer a cada crente.

 

3. O QUE É UM DOM ESPIRITUAL?  

Dom espiritual é um atributo especial, dado pelo Espírito Santo a cada membro do Corpo de Cristo, de acordo com a graça divina, para ser usado dentro do contexto do Corpo.

               O dom espiritual é dado “de acordo com a graça divina”:  o termo grego comum para indicar os dons espirituais é charismata, no singular, charisma, que deriva da palavra charis, que significa “graça”. Por conseguinte, há uma bem próxima relação entre os dons espirituais e a graça de Deus.

Charismata não é um sinônimo exclusivo para os dons espirituais.  Esse vocábulo também é empregado com outros sentidos na Bíblia, como se vê em Romanos 6:23: “...porque o salário do pecado é a morte, mas o dom (charisma) gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”.  Também não é a única palavra usada no Novo Testamento para indicar os dons espirituais, embora seja a mais comum. Em I Co 12:1, lemos: “A respeito dos dons espirituais...”, onde a palavra grega pneumatikós significa, mais literalmente, “coisas espirituais”, ou simplesmente, “espirituais”.  Porém, no resto desse mesmo capítulo, quando o assunto é elaborado por Paulo, a palavra charismata é usada cinco vezes.

   “Para ser usado dentro do contexto do Corpo”, porque os dons espirituais não se destinam a cavaleiros solitários, mas a membros do Corpo de Cristo.   Quase tudo quanto Deus está fazendo no mundo é feito através de crentes que estão trabalhando juntos, em uma comunidade, complementando-se uns aos outros, com os seus dons espirituais, em suas respectivas congregações locais.

    O contexto do Corpo, conforme uso do termo, não significa que os dons sempre olham para dentro, para uso somente no seio da igreja local e para benefício mútuo dos crentes.  Muitos desses dons, como o de evangelista, o de missionário e o de serviço, têm em vista beneficiar àqueles que ainda não se tornaram membros do Corpo.  Mas o ponto é que esses dons, mesmo quando olham para fora do Corpo, ainda assim, não se destinam a crentes isolados, mas a crentes que trabalham em equipe, para que o trabalho seja feito da melhor maneira possível.


 4. OS DONS TÊM QUE SER DESCOBERTOS, DESENVOLVIDOS E USADOS

             O crente que deseje realizar a vontade de Deus, mas que não saiba como faze-lo, ou como funcionar no Corpo de Cristo, precisa dar toda a prioridade à descoberta de seus dons espirituais.  “Descobrir” vem antes de “desenvolver”, porque os dons espirituais são recebidos, e não conquistados.  Deus distribui os Seus dons, de acordo com Sua própria discriminação.  O texto de I Co 12:11 ensina como o Espírito distribui os dons “como lhe apraz, a cada um, individualmente”.  Mais adiante, no v. 18, diz que Deus colocou os membros no Corpo “como lhe aprouve”.  Deus não confiou a pessoa alguma a distribuição dos dons espirituais. 

            O que acontece quando um crente resolve descobrir, desenvolver e usar seu dom ou dons espirituais?   Antes de tudo, torna-se um crente melhor e mais capaz de permitir que Deus faça sua vida ser útil em Suas mãos.

            Primeiramente, os crentes que reconhecem seus dons espirituais tendem a desenvolver uma saudável auto-estima.  Isso não significa que se tenham em mais alta conta do que deveriam faze-lo.  Antes, aprendem que, sem importar quais sejam os seus dons, eles são importantes para Deus e para o Corpo de Cristo.  O olho aprende a não dizer: “porque não sou olho, não sou do corpo” (I Co 12:16). 

            A humildade é uma virtude cristã.  Mas, como quase tudo que é bom, pode haver aí um exagero.  Alguns crentes mostram-se tão humildes que virtualmente não têm utilidade no Corpo.  Essa é uma falsa humildade, e por muitas vezes é estimulada pela ignorância acerca dos dons espirituais.

            As pessoas que se recusam a dizer qual é o seu dom espiritual, com base de que seria uma arrogância e uma presunção, apenas exibem sua ignorância quanto ao ensino bíblico a respeito dos dons.  Alguns, talvez, até tenham algum motivo mais profundo para não se verem envolvidos com algum dom – pois não querem ser considerados responsáveis por seu uso.  Nesse caso, a humildade estará sendo usada como capa para disfarçar a desobediência.

Em segundo lugar, reconhecer os dons espirituais não só ajuda os crentes individuais, mas também a igreja local como um todo.  O quarto capítulo de Efésios ensina-nos que, quando os dons espirituais estão atuando, o Corpo inteiro amadurece.  Isso ajuda o Corpo a tornar-se “homem perfeito” e a abandonar o estado de infantilidade espiritual (ver Ef 4:13 e 14).

Quando uma igreja local amadurece, geralmente cresce.  Quando o Corpo de Cristo está funcionando bem, e há uma “justa cooperação de cada parte”, verifica-se “o seu próprio aumento” (Ef 4:16).  Há uma ligação clara entre os dons espirituais e o crescimento da igreja local.

O terceiro e mais importante fator, gerado pelo reconhecimento dos próprios dons espirituais é que isso glorifica a Deus. O trecho de I Pedro 4:10 e 11 aconselha os crentes a usarem seus dons espirituais, para então explicar o motivo para tanto: “...para que em todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos”.

 

5.  A MORDOMIA DOS DONS ESPIRITUAIS

 A mordomia, no sentido neotestamentário, envolve uma estonteante responsabilidade. De acordo com I Coríntios 4:2 “...o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”.  Mordomia envolve o prestar de contas.

A chave para a mordomia cristã acha-se na parábola dos talentos, em Mateus 25:14-30.  Três mordomos quanto ao mundo dos negócios desta vida receberam diferentes capitais.  A responsabilidade deles era usar esses recursos para o seu devido propósito no mundo dos negócios – fazer mais dinheiro.  Dois dos três conseguiram duplicar o dinheiro que receberam;  quando chegou o dia da prestação de contas, eles foram chamados de “servo bom e fiel”.  A fidelidade deles estava diretamente ligada ao seu sucesso.  Mas o terceiro mordomo mostrou-se um homem tímido e negativista.  Por isso, não foi capaz de reconhecer o potencial dos recursos que havia recebido.  Nada fez com o seu capital, e foi julgado como um “servo mau e negligente”.

Cada dom espiritual que nos foi dado é um recurso que precisamos usar, e acerca do qual seremos considerados responsáveis, por ocasião do julgamento do Tribunal de Cristo. Alguns recebem um dom, outros dois e outros cinco.  Não importa com quantos dons um crente comece.  Os mordomos são responsáveis somente por aquilo que o Senhor tiver preferido conferir-lhes. Mas os recursos que temos devem ser usados para cumprir o propósito do Senhor.  Não há tempo que se compare com o presente para começarmos a nos preparar para responder àquela pergunta que cada um de nós haverá de ouvir, afinal, dos lábios de nosso Senhor: “Que fizeste com o dom espiritual que te dei?”.